Menu fechado

Você conseguirá bancar sua saúde na aposentadoria?

Piggy Bank and Stethoscope with Selective Focus on a Gradated Background.Recentemente, ao pesquisar sobre aposentadoria, deparei-me com uma realidade norte-americana que me chamou atenção: o enorme medo de custear o cuidado com a saúde nessa fase da vida. Enorme não é exagero. Segundo pesquisa vinda de lá, 61% dos entrevistados temiam mais ter esse tipo de dificuldade no futuro do que a própria morte. Uma das causas desse medo é o alto custo da saúde por lá. De acordo com levantamento divulgado ano passado, um casal de idosos necessita desembolsar aproximadamente 240 mil dólares com sua saúde ao longo da aposentadoria, sem contar assistência em instituições de longa permanência – as “nursing homes” e os asilos. Sobre o montante usado no custeio com a saúde, estima-se que dois terços de todo o rendimento obtido ao longo da aposentadoria tenham essa finalidade.

Analisando esse aspecto no Brasil, acho que ainda é algo que não cause tanto medo assim. Por aqui, a preocupação fica concentrada quase exclusivamente no quanto se receberá na aposentadoria (para a maioria, preparar-se resume-se a fazer uma previdência privada). No entanto, acredito que, em breve –  talvez você mesmo se torne um deles após ler esse texto -, muitos brasileiros passarão a sentir esse mesmo grau de medo, aquele que supera o da própria morte. Diferente de lá, felizmente aqui temos o SUS. Nosso sistema de saúde pública, mesmo aos trancos e barrancos, tem apresentado evolução e com certeza ajuda a diminuir esse pavor em relação ao custeio com a saúde na velhice. Veja só, todos temos exemplos, histórias que envolvem conhecidos ou mesmo familiares que foram mal atendidos, porém felizmente tem crescido o número daquelas de pessoas que foram sim bem atendidas pelo sistema público, recebendo, além de um atendimento humanizado, tratamentos caros, como stents coronarianos, internações em UTI adequadas e quimioterapia em tempo correto. Acredite: é apenas com a continuidade dessa evolução do SUS que os aposentados brasileiros não viverão o pânico norte-americano do financiamento individual no cuidado à saúde. Se hoje, uma significativa parcela da população (quase 51 milhões de pessoas) é usuária de planos de saúde e não se identifica com o amedrontamento dos americanos, vejo um futuro onde essa identificação será uma realidade.

Por que desse meu posicionamento um tanto quanto pessimista? As linhas de crescimento dos custos dos planos de saúde, medicamentos e serviços não cobertos distanciam-se cada vez mais da inflação e, o pior, do aumento da renda média da população. Esse distanciamento tem-se mostrado impactante até mesmo em usuários de planos de saúde individual e familiar – aqueles regulados pela ANS. Esse ano, o aumento foi de 13,5% – muito além, aliás quase o dobro!, da inflação anual de 2014 e até mesmo da acumulada em 12 meses. Vale lembrar que, para quem, assim como eu, tem plano de saúde coletivo, esses aumentos não são “controlados” e facilmente atingem os 15%. Com o envelhecimento dessas “carteiras” dos planos coletivos – e o consequente aumento na sinistralidade –, dificilmente reajustes na casa de um dígito voltarão a se repetir. Isso é fato. Agora preste bastante atenção na simulação que farei, ela vai lhe ajudar a pensar nesse assunto com os pés bem grudados ao chão. Suponhamos que eu, com 61 anos, vá me aposentar e deseje manter um plano de saúde. Ganharei R$ 1.500,00 mensais de aposentadoria (quase o dobro dos 48% dos brasileiros ganham apenas um salário!) e desejo manter o plano de saúde que meu último empregador me subsidiava, porém, migrarei para o plano coletivo do sindicato da minha classe profissional. Vou chamar esse plano de Dulce Vita Super e seu custo mensal é de 500 reais. Após um ano, ele passa a ser de 575; três anos: 760; e, em cinco anos: 1.005 reais! Considerando que receberei 6% de aumento anual na aposentadoria, dos 33% que o Dulce Vita consumia inicialmente do meu orçamento, em rápidos cinco anos, essa fração ultrapassou os 50% dos rendimentos. (Isso sem considerar prováveis alterações na legislação que possibilitarão escalonamento em reajustes por idade). Suponho que, sendo diabético, além da metformina, necessito de outra medicação que inicialmente me custa R$ 100. Jogando nessa mesma simulação um aumento anual de 10% para medicamentos (esse ano foi de até 7,7%), em cinco anos terei que desembolsar R$ 160. Caso esses valores não sejam condizentes com a sua realidade, basta colocar no papel e ativar a calculadora do celular que você perceberá uma situação provavelmente também preocupante. Pode ser que antes dos 40 anos você não se preocupe muito com esse cenário, mas considere que seus pais provavelmente o enfrentarão.

A meu ver, devido ao panorama apresentado, grande parte das pessoas que hoje usa planos de saúde migrará para serviços mais baratos, como aqueles com co-participação ou leitos semi-privativos, e, principalmente, para planos com cobertura apenas ambulatorial – tipo um Dulce Vita Light. O que isso significa: precisarão contar com o SUS para internações e cirurgias. Deve-se considerar que dificilmente quem, a cada mês, abre mão de um montante significativo para custear um plano de saúde para si e sua família faz uma poupança exclusiva para eventualidades que envolvam o cuidado. Afinal, por lei, as operadoras dão conta de grande parte de qualquer uma dessas eventualidades. Muitas vezes percebo que as pessoas mais velhas não entendem bem como as operadoras funcionam e acham que fazem parte de algum clube ou que as décadas que foram usuárias, pagando regularmente, servem como fundo de investimento em saúde… Infelizmente, e, à luz dos contratos, não é bem assim que funciona.

Agora voltando para aquele cenário de dificuldade em manter os custos com a saúde quando eles consomem mais de 50% do orçamento, e se uma mudança para um plano mais simples se impor? Ou e se não houver mais condições de continuar com qualquer plano de saúde? O idoso chegará próximo aos 70 anos sem qualquer reserva específica e numa situação para a qual jamais pensou em ter que se “submeter”, como já ouvi pacientes dizendo: depender do sistema público de saúde. Prepare-se para o SUS. E, SUS, prepare-se para os aposentados que virão dos convênios.

Abraços, Leandro Minozzo

Autor de “Não se Aposente! Sete Caminhos para Evitar uma Aposentadoria Fracassada” (2015)

Post relacionado

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

× Agendar Consulta