“Afinal, Alzheimer é hereditário? Quais os riscos de acontecer também comigo?” Essas dúvidas são muito frequentes aqui no consultório. Por isso, escrevi esse pequeno artigo para explicar aos familiares.
Sabemos que a doença de Alzheimer é extremamente complexa, incluindo também os aspectos genéticos. Podemos dizer que sim, a hereditariedade é um fator que influencia no risco, mas não é a sua principal causa. Apesar de ser uma doença essencialmente poligênica – ou seja, são diversos os genes envolvidos nas lesões que levam à doença e há muita influência de fatores epigenéticos que podem silenciá-los – temos mapeados genes de risco, como a mutação na Apolipoproteína E (APOE), e genes determinísticos, ligado à Doença de Alzheimer Familiar, como a mutação na presenilina 1 e 2 e no gene da proteína precursora amilóide (APP).
Quando se considera o peso da hereditariedade no risco para Alzheimer, ele é maior em casos de parentes de primeiro grau que desenvolveram a doença de maneira precoce, antes dos 65 anos. Essa informação – a idade que os casos familiares surgiram – é fundamental.
A forma familiar da doença é rara, sendo responsável por 1% dos casos totais.
A grande maioria dos casos, no entanto, não tem a hereditariedade como causa.
E para quem tem o pai ou a mãe com a doença? Olha, sempre digo, nesses casos, que é melhor caprichar no cuidado com o estilo de vida. Levantamentos apontam que, mesmo não sendo algo determinista, há um aumento no risco de pessoas que tiveram pais e avós com a doença de Alzheimer, mesmo na forma mais comum, chamada de esporádica e tardia. Um estudo publicado por Lisa A. Cannon-Albright e colaboradores, no periódico Neurology em 2019 mostrou que esse risco é de 73% para quem tem apenas um familiar com a doença.
Sobre exames, existem testes que devem ser feitos para levantar a possibilidade de ter a doença?
Os testes existem. Eles são indicados especialmente para os casos suspeitos de Doença de Alzheimer Familiar, quando estamos diante de pessoas que desenvolveram a demência de maneira precoce. Fazer os testes de maneira aleatória, como rastreio ou para pessoas sem histórico suspeito de Doença de Alzheimer Familiar ainda não se mostra uma estratégia com benefícios, podendo causar danos psicológicos consideráveis. Talvez, nos próximos anos, poderemos usar mais os testes genéticos para adequar medidas preventivas em alguns casos, ou mesmo adequar medidas de tratamento.
Independente de haver casos na família ou não, é importante que adotemos as medidas de estilo de vida que, comprovadamente, previnem a Doença de Alzheimer. A grande vantagem, a meu ver, é que essas mesmas medidas também reforçam a prevenção primária de doenças cardiovasculares e de diferentes tipos de câncer. Havendo casos na família, devemos sempre verificar a idade de surgimento da demência e a quantidade de casos. Havendo sinais de doença familiar, o médico deve ser consultado para melhor orientação, em especial seguimento clínico mais próximo. Nesses casos, as medidas de prevenção serão muito mais reforçadas, como exercício físico diariamente, alimentação baseada na dieta mediterrânea ou na versão MIND, adequação do sono, redução do estresse, prevenção e tratamento da depressão, fazer atividades sociais e que estimular a cognição e ajuste nas outras doenças concomitantes, como diabetes e hipertensão. Ainda não temos medidas farmacológicas disponíveis para essa situação aqui no Brasil, mas, provavelmente, elas serão descobertas nos próximos anos.
Quando não há o quadro de Doença de Alzheimer Familiar, com apenas um parente com a doença na forma esporádica e tardia, o reforço da prevenção também deve ser feito.
Considero que todo o esforço na prevenção é extremamente válido.